2 December 2017

hoje vou fazer uma sopa

Todo sábado me permito faxinar. A casa, as unhas, o carro empoeirado.
Todo sábado prolongo aquela horinha preguiçosa na cama e decido ali permanecer: sem pressa, sem correria, sem relógio apontando que o sol segue alto.
Minha rotina não é das piores. Cabe música, paradinhas pra responder mensagens, olhadela nos grupos, nas redes, tempo pra um café caprichado.
Não sei até quando terei energia para limpar a casa, os cantos e organizar armários. Não sei até quando a faxina seguirá sendo minha terapia. Mas tem funcionado. Ao fim do dia, como agora, parece que limpei todas as arestas. Parece também que fiz uma espécie de peeling na mente e esvaziei quilos de perguntassempropósitos, respostaspranemseioquê.
Claro que eu poderia contratar alguém pra fazer esse trabalho. Claro que posso me dar a esse luxo. Mas cuidar da minha casa é um luxo. Ora, se eu moro só e vivo na rua, por que não curtir esse momento a sós, eu e a minha bagunça? Quem mais deveria estar aqui, se sou eu quem provoco a sujeira? Não cabe ninguém. Não quero ninguém bisbilhotando minha lixeira, minhas compras, minhas esquisitices. Não pega bem alguém me ouvir conversar sozinha. Mais de uma mulher habita em mim. Eu pergunto e eu respondo. Não são monólogos. Ouso a dizer que são diálogos doidos, que não começam nem terminam.
Por isso, insisto em dizer que simplesmente não cabem estranhos no meu apartamento. Aqui só entra quem eu convido. Não cabe ninguém que vai mudar as coisas de lugar. Eu gosto de controlar, sim. Que mal há nisso se o que controlo me pertence? Problema seria se eu estivesse por aí, tirando as coisas dos outros do lugar. Ok, confesso. Faço isso na casa de minha mãe. Mas ela ama que eu esteja lá e fazendo tudo do meu jeito. Dona Nalva confia em mim. Ela sabe que faço tudo pra deixá-la confortável, com tudo fácil de apanhar.
Ao final da limpeza, além de fome, dá mesmo a sensação de que está tudo em ordem. Ao menos piso descalça e sinto que o caminho está livre e o ar mais leve. 
E além do estômago que pede atenção, o coração também anuncia que parece querer visita quando a casa está limpa. Mas chega dessa conversa fiada que não vai levar a lugar algum. Decidi que eu vou pra cozinha e, por ora, é melhor mesmo esquecer essa segunda parte.

4 comments:

  1. Num mundo tão caótico e instável, que bom poder organizar e cuidar do que é seu. Realmente é um privilégio. Aproveite bem seus sábados e domingos. Essas manhãs de faxina são verdadeiros portos seguros às incertezas do cotidiano.

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    1. Verdade, amiga! Aproveitando cada segundo... rs..beijo!

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  2. Meu zeeeus! Eu tava com muita saudade dessas crônicas tão maravilhosas que só vc, Ju, sabe escrever! "Mais de uma mulher habita em mim", eu não tenho dúvidas! Forte abraço!

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